terça-feira, setembro 13, 2005

Soares Feitosa

Ah, sim, Soares Feitosa.

Poeta nordestino, construtor do Jornal de Poesia, maior site de poesia da língua portuguesa. Reverencio-o neste singelo blog, colocando para exaltação uma magnífica obra-prima de sua mente:


Noite, dois excertos



1.
Bromélias


Um retrato distante,
mostrei-lhe a efígie:
uma moça distinta, muito bonita.
Parece com você — disse-lhe.

Ela disse: Parece não, é muito séria.
Eu disse: "É não! Ela é
uma poeta dos aurorais,
os sóis do pântano".
Ela perguntou se tinha bromélias.

Eu disse que bromélias, com muito espinho e muitas abelhas e seus ferrões,
todo o tempo, eram-lhe
[as bromélias, os espinho, as abelhas],
eram-lhe os olhos.

Não reparei
se enrubesceu; uma liminar,
essas banalidades do "pncd"
— o pão nosso de cada dia — o cliente ao telefone;
e então a noite tomou conta outra vez.


2.
Os desenhos

E todos os desenhos eram prévios.

Até mesmo o gesto:
pegar uma xícara, coisas banais,
riscar um risco, o dizer que sim,
levantar da cadeira; eram prévios
todos os desenhos.

E bebíamos e nos ríamos às coisas fúteis,
e nos dizíamos duma casinha bem branquinha,
como se à mata, os regatos
já rumorejassem a nossos pés.

— Que mais queres, leitor ávido de coisas?

Uma montanha? Exiges uma montanha,
que eu te fale da montanha? Pois havia montanha,
sim; o horizonte encurvava-se ao nosso olhar,
profundamente
às coisas de que aos olhos...
E eram
excessivamente prévios todos os desenhos.

Agora,
este triturador de papel.

Fortaleza, 13.11.1999, noite alta.

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