Sábado à noite, estou numa festa. É o quarto dia de um dezembro glorioso e a festa é para comemorar uma vitória. Mas palavras me vêm à cabeça, e me sento para escrevê-las:
Eu quero simplesmente saber o que eu quero. Meus desejos se confundem com a vontade de querer que você me queira. As táticas se mostram erradas por falta de estratégia, pois minha estratégia é você e você não existe. Soluços e vodka, vapores alcoólatras e morte. Não quero bailar na curva. Eu não vou bailar na curva. Quem vacila, dança. Quem não, dança também.
Vozes na sala de estar. Estamos na sala de estar, mas não estamos juntos. Estamos tão longe quanto se pode estar. Seres que não eram, nem nunca serão. Misteriosos olhares que não dizem nada, nada tem a dizer. Só a indiferença se expressa em seus gestos inexpressívos. Minha garganta inflama nas bebidas geladas. Minha alma se inflama nas duchas geladas, banhos de água fria na minha já frágil esperança de que algum, sei lá, qualquer dia, possamos ser.
Já vou. Por favor não me siga. Por favor, não! Não me diga não, não diga sim. Não, não digas nada, dize que tudo sou eu. Eu e minha alma vazia, nada. Loucuras azuis, sentimentos blues. Melancolia das viagens pelas paragens em suaves amaragens, MORRI.
A minha diversão está condicionada à criação de probabilidades dos eventos post-mortem, ou post-mortum, foda-se o latim. Mas então, voltando ao assunto, se não houver êxtase, viagens aos longínqüos mundos extra-sensoriais, não há motivos para não se estar melancólico.
A noite é uma criança, e eu sou uma criança da noite. Claróes dourados rasgam a delicada pele de meu peito, dilacerando um coração putrefato. Construo castelos na areia, minhas idéias caem em ruínas. IDIOTA!
Criança, criança, criança. Estou recém engatinhando na estrada da vida. E já quero ver a morte! Realmente, sou uma criança, ainda tenho muito a aprender. Tenho que aprender a não amar, a não depender, a não precisar que você olhe para mim, a não mais chorar pelos quases, pelos nuncas, porque preciso de você e ninguém precisa de mim, precisamente porque te amo. Tenho que aprender a não precisar, e não esperar, nem ter esperanças. Tenho que aprender a agir. Tenho que aprender a aprender. Não sei nem onde está a cerveja.
Sim, sou um tolo. E para piorar, minhas pretensões prestigistas são comparáveis apenas à solidão de Poe ou à loucura do Necronomicon.
Tenho que aprender a escrever. E a não sofrer por ninharias. Tenho que aprender a morrer.
A estrada da evolução é longa, deserta, tenebrosa e pedregosa. E ainda estou no começo. Mais parado que andando. Mais tropeçando que avançando. Preciso de um apoio, mas você não quer sê-lo.
Enquanto isso vou me embriagando numa festa. Morto e sem vida.
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